São versos sinceros e felizes para resumir o que aconteceu, o que se viveu e o que foi o Frágil – no Bairro Alto e não só – entre o princípio de uma década e o final de outra. Dezasseis anos depois, esta publicação – que começa agora e aqui – também pode ser resumida nesta dupla vontade: a de dar e receber. O quê? Vestígios do modo como vivemos aquele tempo, naquele lugar. Imagens, memórias, recortes, documentos, testemunhos, sons e sentimentos daqueles dias tão marcados e ligados àquelas noites. O fragil.luxfragil.com existe para isso: mostrar, recolher, organizar e ampliar um arquivo de imagens, texto, e o que mais se for encontrando, sobre aqueles anos, naquele sítio.
Sem nostalgias vaidosas ou passadismos inúteis, achamos que esse material poderá ser uma base de dados útil para ajudar a perceber, a contar e a lembrar uma parte da história recente desta cidade, neste país. Num Bairro Alto que já não existe da mesma maneira, o Frágil abriu as portas do nº 126 da Rua da Atalaia no dia 15 de junho de 1982 e, até Junho de 1998, transbordou várias vezes para fora das suas paredes. Para as ruas do Bairro, em cada festa de aniversário, mas também para a Fábrica da Tabaqueira (no 10º aniversário), para o Armazém 22 ou, com a Produções Bairro Alto, para o Alto de Sta. Catarina, o Jardim do Tabaco, a Faculdade de Ciências, o Coliseu de Lisboa e o Convento do Beato, sempre num namoro e aproximação ao Tejo que teve consequências nas décadas seguintes.
Em conjunto com outros espaços – bares, restaurantes, lojas, galerias – o Frágil marcou uma mudança
“no que respeita à cultura da noite, ou à fruição da noite como forma de cultura”, que foi importante ter acontecido naquela altura. Importante não só pela forma como marcou quem viveu – esse tempo, ali – mas também pela forma como o cruzamento de uma série de pessoas – ali, nesse tempo – viria a marcar a vida urbana, artística, nocturna e cultural daquela época. Pela forma como marcou as nossas vidas.
Porque antes de se metamorfosear e fixar à
beira Tejo o Frágil foi um lugar de copos, de conversa, de desvario, de música, de engate, de fuga. Tanto como foi de encontro, de partilha, de descoberta, de aventura. Por mais que a memória da intransponível porta faça ecoar uma noção de lugar elitista, o Frágil foi também lugar comunitário. E isso é algo que a distância deste tempo permite perceber melhor.
A quem lá esteve, ou não, a quem ouviu falar, ou nem por isso: Dar e Receber. Instantes de um tempo em que não éramos todos fotógrafos, nem todos os dias tinham fotografias. Sim, ficou em película. Sem selfies, nem redes sociais, nem sequer internet ou telemóveis, aquilo aconteceu! Foi intenso, bonito e isso sente-se neste material (maioritariamente diapositivos) que se desmaterializa para sair de gavetas e dossiers de acesso restrito. Porque aquilo que somos hoje passa pelo que vivemos ontem.
Esse tempo, nesse lugar, originou – e pode ainda originar – outras publicações, noutros formatos. Esta começa agora, aqui, com a partilha do que tínhamos guardado e com um enorme desejo de receber também aquilo que cada um ainda guarda. Bocados de memória daquelas noites. Tão difíceis de esquecer como de reconstituir.
„Dar, dar
Dar o direito a toda a voz
Esse respeito que queremos para nós.
Dar e Receber.“
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